Zen é uma palavra japonesa derivada da hindu dhyana que significa meditação. Seus conceitos, que foram desenvolvidos na Índia, são essencialmente associados à vertente Mahayana do Budismo e disseminados pelo monge Bodhidharma na China durante o século VI d.C. – ocasionando a fundação da tradição Ch’an – e no Japão no século XII d.C. A prática do zen apresenta seitas distintas, das quais se destacam a Soto Shu e a Rinzai, que desenvolveram seus próprios métodos.
Apesar da importância dos textos sagrados, das divindades e dos rituais religiosos, a essência da filosofia zen é pautada na experiência imersiva promovida pela meditação ao romper os limites do pensamento para manter-nos presentes e nos fazer enxergar o estado das coisas como de fato é, sem ilusões. Esse preceito sustenta-se no modo pelo qual Buda acessou a iluminação e ensina que todos temos uma natureza búdica, embora obscurecida pela ignorância.
A partir do século XX, o zen foi compartilhado em todo o mundo e incorporado a diferentes áreas para promover tranquilidade e bem-estar. O design de interiores foi um dos mais privilegiados pelos seus conceitos, impulsionando a natureza divina presente em cada elemento da decoração como as chaves para lograr espaços físicos conectados com o estado mental ou com a busca interior, mesmo que não pratique yoga ou meditação.
A construção deste espaço não se delimita a apenas de eleger uma imagem de Buddha, de um monge ou de uma divindade hindu como Shiva e Ganesh, mas produzir uma atmosfera contemplativa que desacelere e recarregue as energias ao unir equilíbrio e relaxamento a uma estética elegantemente simples e atraente. Contudo, a beleza mais essencial que ostensiva das artes zen são ótimos pontos de partida para criar o seu templo e ter uma vivência com mais propósito.
A natureza é a alma do ambiente, afinal não há um jardim sem o verde da vegetação outorgando frescor e o calor da luz solar imprimindo acolhimento. E aqui há um convite para ir além usufruindo a naturalidade das esculturas de pedra (ou em cimento aludindo este componente), que integram o natural da matéria-prima com a intervenção artística incorporando na área externa uma presença poderosa, ainda que simbólica e sutil.
Neste âmbito a iconografia das esculturas de Buda enriquece o garden decor com intenções. Cada asana (postura) e mudra (gesto com a mão) do mestre do Budismo transmite ensinamentos relevantes que dão o tom a prática meditativa. Enquanto Buda Gordo ou Hotei, orienta a encontrar a abundância na generosidade, por exemplo, o Bhumisparsha Buddha o convida a compreender que a luz da verdade é um meio de acessar a sabedoria divina com a iluminação.
O jardim zen alude a beleza em essência, que se manifesta no ambiente externo sem esforço e com muita sutileza, uma vez que a “alma minimalista” – a escassez de elementos visuais complexos ou eletrônicos – permite que a percepção fique aguçada e que promova estados de consciência elevados. Cabe aqui se apropriar da luz de velas, sobretudo ao anoitecer, trazendo o elemento fogo para energizar os momentos de quietude, inspirando concentração, presença e criatividade.
Lanternas decorativas coloridas protegem as luzes calmantes das velas e oferecem harmonia cromática no ambiente ao recorrer às cores frias para incorporar tranquilidade e conceder a almejada “paz de espírito”. A mesma intenção é proporcionada pelas fontes de jardim, que além de adicionarem o elemento água exploram nossos sentidos com o som relaxante da “correnteza”.
Salvo os elementos naturais característicos da decoração de jardim vale beneficiar outros sentidos englobando incensos com incensários e essências com os rechôs aos aromas e a beleza de flores e plantas. Experimente incrementar vasos com tamanhos e materiais variados promovendo textura, continuidade e sensação de conforto.
É importante abraçar as linhas puras e a sutileza do jardim para se libertar da ideia de perfeição, afinal “é na sutileza que o ilimitado reside”. Utilize a imperfeição ou o aspecto “inacabado” do ambiente externo para romper com o convencional e abrir espaço para a co-criação no dia a dia. Modificar a forma do espaço, rearranjar as vegetações, tirar ou incluir objetos decorativos que o conecte ainda mais consigo mesmo será também um grandioso exercício de meditação.
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