TEXTOS DE MESTRE DOGEN NO ZEN BUDISMO - SEGUNDA PARTE
Textos de Mestre Dogen (8)
agosto 10, 2009 — Monja Isshin
Gakudo Yojin-shu
Pontos a observar no Estudo do Caminho
Introdução
por Monja Coen
“Mestre
Zen Dogen completou este tratado para seus discípulos em Kosho-Ji em 1234, sete
anos após ter retornado da China.
Trata-se
de uma explicação rigorosa sobre a prática, onde não apenas o Zazen, mas todas
as ações devem ser realizadas.
Iniciando
com uma exortação para despertar a mente-bodhi, Mestre Dogen vai adiante e
discute a importância do treinamento com um verdadeiro mestre, além de tópicos
como a relação entre treinamento e iluminação e o significado da prática de
Zazen. Muito embora o conteúdo do Shobogenzo seja filosoficamente mais
profundo, o Gakudo Yojin-shu é muito estimado como um guia de treinamento na
Soto Zen por aqueles que estão realmente engajados na prática diária do
Caminho. Entre os numerosos trabalhos de Mestre Dogen este, em particular,
merece ser lido repetidamente, idealmente em conjunto com o aprofundamento da
própria prática pessoal; pois embora relativamente curto, ele apresenta nada
menos do que o mapa da iluminação.” (Professor Yuho Yokoi, da Universidade de
Aichi, no Japão)
Durante
os oito anos de prática intensiva no Mosteiro para Formação de Monjas de Aichi,
tive o privilégio de poder estudar e ouvir os ensinamentos de Kanpo Mano Roshi,
Venerável Mestre, que todas as quartas feiras passava a manhã conosco nos
instruindo no Fukanzazengi e no Gakudo Yojinshu. A cada nova turma de
monjas noviças, Mano Roshi reiniciava os estudos destes dois textos básicos de
prática Zen Budista. Ele já passara dos oitenta anos, quando o conheci,
mas quando falava do Darma não tinha idade. Cada ano, embora o texto fosse o
mesmo, suas palestras eram diferentes. Quanto mais fui aprendendo japonês
mais fui admirando a profundidade de sua sabedoria, sua terna compaixão, sua
paciência nos instruindo e a humildade com que relatava fatos de sua vida
de prática religiosa, nos inspirando a penetrar nos dez importantes aspectos da
prática do Caminho., este grande legado de Mestre Eihei Dogen.
Pontos
a Observar no Estudo do Caminho, Gakudo Yojin-shu, é um dos textos usados para
aprofundar a compreensão dos iniciantes no Zen Budismo e para aqueles que se
engajam no Curso de Preceitos e Procedimentos organizado e dirigido pela Monja
Coen, na Comunidade Zen Budista. Foi uma das primeiras traduções feitas
pelo Grupo de Estudos do Templo Busshinji, durante a época em que a Monja Coen
orientava aquela comunidade. A tradução atual é uma revisão modificada e
melhorada daquele texto original e se baseou em várias versões em Inglês
organizadas por diferentes mestres:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
1.
A necessidade de despertar para a Mente-Bodhi
A
Mente-Bodhi é conhecida por muitos nomes, porém todos se referem à mesma Mente
Una. O Venerável Nagarjuna[1] disse, “A mente que vê através do
fluxo do aparecer e desaparecer e reconhece a natureza transitória do mundo é
também conhecida como Mente-Bodhi.” Por que então, a dependência temporária
nesta mente é chamada de Mente-Bodhi? Quando a natureza transitória do mundo é
reconhecida, não aparece nem a mente egoísta comum nem a mente que busca fama e
proveito.
Ciente
de que o tempo não espera por ninguém, pratique como se estivesse tentando
apagar o fogo em seus cabelos. Reflita sobre a natureza transitória do corpo e
da vida, se esforce exatamente como o Buda Xaquiamuni fez quando levantou seu
pé[2].
Mesmo
que ouça o chamado bajulador do deus Kimnara e do pássaro Kalavinka[3], não preste atenção, considere-os apenas
como a brisa do anoitecer soprando em seus ouvidos. Mesmo que veja uma face tão
bela como a de Mão-cha’ng ou Hsi-shih[4], pense nela apenas como o orvalho da manhã
bloqueando sua visão.
Quando
livre do apego ao som, cor e forma, naturalmente se tornará um com a verdadeira
Mente-Bodhi. Desde os tempos antigos existiram aqueles que ouviram pouco sobre
o verdadeiro budismo e outros tiveram pouca oportunidade de ouvir, ler e
estudar os sutras. A maioria deles caiu na armadilha da fama e lucro, perdendo
a essência do Caminho para sempre. Que pena! Que lamentável! Não ignorem isto.
Mesmo
que você tenha lido os meios expedientes ou verdadeiros ensinamentos de grandes
sutras[5] ou transmitido os ensinamentos
esotéricos[6] e exotéricos, a menos que abandone
fama e lucro, não se poderá dizer que tenha despertado a Mente-Bodhi.
Alguns
dizem que a Mente-Bodhi é o mais alto e supremo estado de iluminação de Buda,
livre da fama e do lucro. Outros dizem que é aquilo que abrange um bilhão
de mundos[7] em um único momento de pensamento, ou
que é o ensinamento no qual nenhuma delusão surge. Outros ainda, dizem que é a
mente que entra diretamente no plano de Buda. Estas pessoas, ainda sem entender
o que é a Mente-Bodhi, de maneira devassa a caluniam. Elas estão, na verdade,
muito longe do Caminho.
Reflita
sobre sua mente comum, como está egoisticamente apegada, à fama e ao lucro.
Está possuída pela essência e aparência dos três mil mundos, em um único
momento de pensamento? Este pensamento único experimenta o portal do dharma do
não nascido? Terá ela experimentado o ensinamento que não desperta uma única
delusão? Não! Nessa mente apegada não há nada a não ser delusão de fama e de
lucro, nada digno de ser chamado de Mente-Bodhi.
Muito
embora desde os tempos antigos tenham existido Budas Ancestrais que usaram
métodos seculares para realizar a iluminação, nenhum deles esteve apegado à
fama e ao lucro, nem mesmo ao Dharma, quanto menos ao mundo comum.
A
Mente-Bodhi é, como foi mencionado anteriormente, aquela que reconhece a
natureza transitória do mundo – uma dos quatro percepções[8]. É completamente diferente daquela
apontada pelas pessoas confusas.
A
mente do não surgimento e a mente do aparecimento de um bilhão de mundos são
práticas muito boas após se ter despertado a Mente-Bodhi. “Antes” e “após”, no
entanto, não devem ser confundidos. Apenas esqueça de si e tranqüilamente
pratique o Caminho. Esta é verdadeiramente a Mente-Bodhi.
Os
sessenta e dois pontos de vista estão baseados no eu[9], portanto, quando visões egoístas
aparecem, apenas faça zazen tranqüilamente, observando. Qual é a base de nosso
corpo, suas posses internas e externas? Você recebeu seu corpo, cabelo e pele
de seu pai e de sua mãe. Entretanto, as duas gotas de seus pais, vermelha e
branca[10], são vazias do início ao fim, portanto,
não há nenhum eu aqui. Mente, consciência discriminativa, conhecimento e
pensamento dualístico amarram a vida. O que, em última instância, são inalar e
exalar? Não são o eu. Não existe nenhum eu para se apegar. A pessoa deludida,
entretanto, está apegada a si mesma e a iluminada está desapegada. Ainda
assim vocês procuram medir o eu que é não eu e se apegam ao surgir que é
não surgir negligenciando a prática do Caminho. Por falhar em cortar suas
amarras com o mundo fogem do verdadeiro ensinamento e correm atrás do falso.
Vocês se atreve a dizer que não estão agindo erroneamente?
[1] Nascido
em uma família de Brahman (ver “O Mérito de Se Torna Monge” ) nota 9: no
sul da Índia no segundo ou terceiro século AD, tornou-se um dos principais filósofos
do Budismo Mahayana, sendo considerado como o Décimo Quarto Ancestral na
linhagem da transmissão do Darma. Ele defendia a teoria de que todos os
fenômenos são relativos, não tendo uma existência independente.
[2] No
Budismo Mahayana se acredita que o fundador histórico do Budismo, Buda
Xaquiamuni, atravessou inúmeras transmigrações antes de finalmente realizar a
iluminação. Também se acredita que antes do Buda histórico tiveram
milhares de pessoas que já tinham atingido o “Estado de Buda”, sendo um deles o
Buda Pusya. Quando o Buda Xaquiamuni em uma de suas vidas anteriores encontrou
este Buda, é dito que para mostrar seu respeito para Pusya,
Xaquiamuni permaneceu com um pé levantado por sete dias e noites cantando um
sutra.
[3] Kimnara
é um deus indiano da música. O kalavinka é um pássaro mítico indiano com uma
bela voz.
[4] Estas duas mulheres são
consideradas entre as mais belas cortesãs da antiga China.
[5] “Ensinamentos verdadeiros”
refere-se propriamente aqueles do Saddarma-pundarika. Avatamsaka, e do
Mahaparanirvana Sutra e “livros” incluem todos os outros ensinamentos.
[6] Os ensinamentos esotéricos são
encontrados nas escolas Shingon japonesa e Tendai, e refere-se a
doutrinas e rituais com grande influências do hinduísmo, que se desenvolveram
na Índia durante os séculos sete e oito. Estes ensinamentos, tendo propriedades
mágicas, apenas podem ser revelados àqueles que foram devidamente iniciados. Os
ensinamentos exotéricos se referem a todos os outros ensinamentos.
[7] Pensava-se que todo o universo, em
sua integridade, fosse constituído de um bilhão de mundos.
[8] Em inglês insights. De acordo com
o Novo Dicionário Aurélio: Compreensão repentina, em geral intuitiva, de suas
próprias atitudes e comportamentos, de um problema, de uma situação.
Os
outros três insights são: (1) que o corpo é impuro; (2) que a percepção conduz
ao sofrimento; e (3) que a mente é impermanente.
[9] Em inglês: “self”.
[10] A gota vermelha representa o
óvulo da mãe e a branca o esperma do pai.
Continuar
lendo: Textos de Mestre Dogen (9)
– Tradução: Grupo de Estudos do
Templo Busshinji, revisada pela Monja Coen, baseada nas versões em inglês nos
livros:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings, de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
Textos de Mestre Dogen (9)
agosto 14, 2009 — Monja Isshin
Gakudo Yojin-shu
Pontos a observar no Estudo do Caminho
Introdução e Parte 1: A necessidade de despertar para a
Mente-Bodhi
2.
A necessidade de treinar ao encontrar o Verdadeiro Darma
Uma
frase oferecida por um conselheiro leal pode alterar o curso de uma nação.
Quando Budas-Ancestrais oferecem, mesmo que seja uma única palavra, não deveria
haver ninguém que não se convertesse. Entretanto, apenas reis sábios ouvem os
conselhos de seus conselheiros, e apenas praticantes excepcionais ouvem as palavras
de Buda.
É
impossível cortar as fontes de transmigração sem abandonar a mente deludida. Da
mesma forma, quando um rei não presta atenção aos conselhos de seus consultores
leais, não mais prevalecerá uma política virtuosa, e ele será incapaz de governar
bem o país.
Continuar
lendo: Textos de Mestre Dogen (10)
Tradução: Grupo de Estudos do Templo
Busshinji, revisada pela Monja Coen, baseada nas versões em inglês nos livros:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings, de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
Textos de Mestre Dogen (10)
agosto 21, 2009 — Monja Isshin
Gakudo Yojin-shu
Pontos a observar no Estudo do Caminho
Introdução por Monja Coen e Parte
1. A necessidade de despertar para a
Mente-Bodhi
Parte 2: A necessidade de treinar ao
encontrar o Verdadeiro Darma
3.
A necessidade de penetrar o Caminho através da prática constante
Pessoas
comuns acreditam que os estudos trazem as riquezas. Buda Xaquiamuni ensina que
na prática há iluminação. Nunca ouvi falar de ninguém que tenha se tornado
membro de lideranças milionárias sem estudar, ou alcançado a iluminação sem
praticar.
Embora
seja verdade que existam diferentes métodos de treinamento, aqueles baseados na
fé ou na compreensão do Dharma, na iluminação súbita ou gradual[1], ainda assim, a iluminação depende de um
treinamento. Embora a profundidade e a velocidade de compreensão das pessoas
seja diferente, o tesouro é obtido através do estudo acumulado. Nenhuma dessas
coisas depende dos soberanos serem superiores ou não, ou da sorte ser boa ou
ruim.
Se
o tesouro pudesse ser obtido sem estudo, quem iria transmitir o método pelo
qual antigos monarcas, tanto em épocas de ordem ou desordem, governaram com
sucesso o país? Caso a iluminação pudesse ser sem treinamento, quem
poderia compreender os ensinamentos do Tathagata[2], distinguindo, como ele fez, a diferença
entre delusão e iluminação? Embora pratique no mundo da delusão, ainda assim é
o mundo da iluminação. Então, pela primeira vez, você perceberá que a jangada
do discurso é apenas um sonho passado e será capaz de cortar para sempre a
visão antiga de conceitos pessoais que amarrava você as palavras das
escrituras.
Buda
não impõe esta visão a você. Ela aparece naturalmente a partir de sua prática
no Caminho, a prática convida a iluminação. Seu tesouro natural não vem do
exterior. Uma vez que a iluminação é una com a prática, a ação iluminada
não deixa traços. Portanto, quando olhar novamente a prática com olhos
iluminados, você descobrirá que não há ilusões para serem vistas, apenas uma
grande nuvem branca de dez milhões de ri[3] cobrindo todo o céu.
Quando
a iluminação está em harmonia com a prática, você não pode desmerecer nem mesmo
uma simples partícula de poeira. Se agir dessa maneira você se afastará da
iluminação tanto quanto o céu está afastado da terra. Se retornar ao seu Verdadeiro
Lar, poderá transcender até mesmo a condição de Buda.
(escrito
em 9 de março, segundo ano de Tempuku 1234)
[1] A posição de que a iluminação
vinha gradualmente como resultado de leituras de sutras e práticas
acumuladas eram mantidas pela Escola Zen do Norte da China. Esta escola
terminou e apenas a Escola Zen do Sul, que pregava a realização da iluminação
súbita, permaneceu.
[2] Este é outro nome para Buda
Xaquiamuni. Significa uma pessoa que alcançou o ir e vir do Tathagata, o que é,
a realidade absoluta que transcende a multiplicidade de formas do mundo
dos fenômenos.
[3] Um “ri” corresponde
aproximadamente a uma milha
Continuar
lendo: Textos de Mestre Dogen (11)
Tradução: Grupo de Estudos do Templo
Busshinji, revisada pela Monja Coen,
baseada nas versões em inglês nos
livros:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings, de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
Textos de Mestre Dogen (11)
agosto 24, 2009 — Monja Isshin
Gakudo Yojin-shu
Pontos a observar no Estudo do Caminho
Introdução por Monja Coen e Parte
1. A necessidade de despertar para a
Mente-Bodhi
Parte 2: A necessidade de treinar ao
encontrar o Verdadeiro Darma
Parte 3: A necessidade de penetrar o Caminho
através da prática constante
4.
A necessidade da prática não egoísta do Caminho ou “Não pratique os
ensinamentos de Buda com a idéia de ganho”
Na
prática do Caminho é necessário aceitar os ensinamentos verdadeiros de nossos
antecessores, colocando de lado nossas idéias preconceituosas. O Caminho não
pode ser realizado com idéias ou sem idéias. Apenas quando a mente da prática
constante coincide com o Caminho, corpo e mente conhecem a paz.
Quando o corpo e a mente não estão em paz, espinhos crescem no caminho da iluminação.
Como
harmonizar a prática pura com o Caminho? Para assim o fazer, a mente não pode
estar apegada nem rejeitando nada, necessita estar completamente livre do apego
a fama e ao lucro. Ninguém se submete ao treinamento budista por causa dos
outros. A mente dos praticantes budistas, como a da maioria das pessoas de
nossa época, todavia, está longe da compreensão do Caminho. Elas fazem aquilo
que os outros elogiam mesmo sabendo que é falso. Por outro lado, elas não
praticam aquilo que os outros desdenham mesmo que saibam que este é o
verdadeiro Caminho. Que lamentável!
Reflita
tranqüilamente se suas palavras e ações estão unidas com o Budismo ou não. Se
fizer isto, você irá perceber o quanto elas são vergonhosas. Os olhos
penetrantes dos Budas-Ancestrais estão constantemente iluminando o universo
inteiro.
Desde
que os praticantes budistas não fazem nada para si mesmos, como eles poderiam
fazer algo pela fama ou pelo lucro? Vocês devem praticar apenas pelo próprio
Budismo. Os vários Budas não demonstram sua profunda compaixão por todos os
seres, nem por seu próprio bem, nem para impressionar os outros. Esta é a
tradição Budista.
Observe
como até os animais e insetos nutrem sua prole, tolerando vários sofrimentos
durante o processo. Os pais não pretendem ganhar nada com suas ações, mesmo
após sua descendência ter alcançado a maturidade. No entanto, embora sejam
somente pequenas criaturas, têm profunda compaixão por sua prole. Isto também é
assim com relação à compaixão dos vários Budas por todos os seres. O precioso
ensinamento desses vários Budas, todavia, não está limitado somente à sua
compaixão; ao contrário, eles aparecem em incontáveis modos por todo o
universo. Esta é a essência do Budismo.
Nós
já somos as crianças de Buda; por esta razão, devemos seguir seus passos. Praticantes,
não pratiquem o Darma de Buda para seu próprio interesse. Não pratiquem o Darma
de Buda por fama ou lucro. Não pratiquem o Darma de Buda para obter recompensa
meritosa ou poderes miraculosos. Simplesmente, pratiquem Budismo por causa do
Budismo; este é o verdadeiro Caminho.
Parte 5. A necessidade de procurar um
verdadeiro Mestre
Tradução: Grupo de Estudos do Templo
Busshinji, revisada pela Monja Coen,
baseada nas versões em inglês nos livros:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings, de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
Textos de Mestre Dogen (12)
agosto 27, 2009 — Monja Isshin
Gakudo Yojin-shu
Pontos a observar no Estudo do Caminho
Introdução por Monja Coen e Parte
1. A necessidade de despertar para a
Mente-Bodhi
Parte 2: A necessidade de treinar ao
encontrar o Verdadeiro Darma
Parte 3: A necessidade de penetrar o Caminho
através da prática constante
Parte 4: A necessidade da prática não
egoísta do Caminho ou “Não pratique os ensinamentos de Buda com a idéia de
ganho”
5.
A necessidade de procurar um verdadeiro Mestre
Um
antigo Buda-Ancestral disse certa vez: “Se no princípio a Mente-Bodhi não for
verdadeira toda e qualquer prática resultará em nada.” Quão verdadeiro! A
qualidade da prática também depende da verdade ou falsidade do mestre.
O
praticante budista pode ser comparado a um bom pedaço de madeira, e o
verdadeiro mestre a um bom carpinteiro. Até mesmo a madeira de melhor qualidade
não mostrará sua extraordinária beleza se não for trabalhada por um bom
artesão. Um pedaço de madeira empenada, em mãos habilidosas, imediatamente
mostra esplendidos resultados. A veracidade do mestre está em direta
relação com a verdadeira ou falsa iluminação de seus discípulos. Isto deve ser
bem compreendido.
Em
nosso país, no entanto, não tem havido verdadeiros mestres desde tempos
antigos. Como reconhecemos? Através de suas palavras. Da mesma forma que podemos
saber da natureza da nascente se apanharmos uma conchinha de água fluindo no
rio.
Por
séculos neste país mestres têm compilado livros, ensinado discípulos, e guiado
seres humanos e celestiais. Entretanto, suas palavras eram verdes, imaturas,
pois ainda não haviam atingido o nível profundo do treinamento. Como
poderiam ter alcançado a iluminação? Apenas transmitiam palavras, recitando
nomes e sons. Dia e noite eles contavam o tesouro alheio, sem ter nada de seu.
Mestres
anteriores são responsáveis por este estado de coisas. Alguns deles ensinavam
que a iluminação deveria ser procurada fora da mente, outros que o renascimento
em outras terras era o objetivo. Esta é a fonte da confusão e da delusão.
Um
bom remédio, se não for usado de acordo com as instruções adequadas, pode
piorar a doença ou mesmo se tornar um veneno. Em nosso país, há muito tempo,
não tem havido mestres capazes de controlar o efeito venenoso dos remédios. Por
esta razão tem sido tão difícil eliminar os sofrimentos da vida e a doença. Como,
então nos libertar do sofrimento da velhice e da morte?
A
culpa desta situação é inteiramente dos mestres, não dos discípulos. Por que?
Porque eles guiam seus discípulos ao longo dos galhos das árvores, sem penetrar
até as raízes. Sem compreender completamente o Caminho, absorvidos em suas
próprias idéias e pensamentos, arrastam outros para o mundo da delusão. Que
pena! Como os discípulos podem saber a diferença entre o certo e o errado?
Infelizmente,
o verdadeiro Darma de Buda ainda não se espalhou por este pequeno país, e
mestres verdadeiros ainda terão que surgir. Se você deseja praticar o insuperável
Caminho de Buda, terá que viajar longas distâncias até a China da
Dinastia Sung, e encontrando um mestre refletir no verdadeiro Caminho. Ir além
dos pensamentos, distaciando-se da mente deludida. Se você é incapaz de
encontrar um verdadeiro mestre, é melhor não estudar Budismo.
Só
é verdadeiro o mestre que penetra o Darma Correto e recebe o selo de
aprovação de um mestre genuíno. Não importa se é jovem ou não; experiente
ou não. Para um mestre correto nem os estudos formais dos textos nem a compreensão
intelectual são prioridade. Com capacidade além de qualquer limitação sua
mente-coração livremente penetra os nós do bambu. Não fica apegado a idéias pessoais
nem estagnado em sentimentos emocionais. Sabedoria e prática em perfeita
harmonia. Essas são as características de um verdadeiro mestre.
Continuar
lendo: Textos de Mestre Dogen (13)
Tradução: Grupo de Estudos do Templo
Busshinji, revisada pela Monja Coen,
baseada nas versões em inglês nos livros:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings, de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
Textos de Mestre Dogen (13)
outubro 9, 2009 — Monja Isshin
Gakudo Yojin-shu
Pontos a observar no Estudo do Caminho
Introdução por Monja Coen e Parte 1. A necessidade de despertar para a
Mente-Bodhi
Parte 2: A necessidade de treinar ao encontrar o Verdadeiro Darma
Parte 3: A necessidade de penetrar o Caminho
através da prática constante
Parte 4: A necessidade da prática não
egoísta do Caminho ou “Não pratique os ensinamentos de Buda com a idéia de
ganho”
Parte 5: A necessidade de procurar um
verdadeiro Mestre
6.
O que você deve saber para a prática do Zen
O
estudo do Caminho através da prática de zazen é de vital importância. Não deve
ser negligenciado. Na China há excelentes exemplos de antigos mestres Zen que
deceparam seus braços ou dedos[1]. Há muito tempo o Buda Xaquiamuni
renunciou tanto ao seu lar quanto ao seu reino, outra preciosa evidência da
prática do Caminho. Nos dias de hoje há quem afirme que os indivíduos
necessitam apenas das práticas que podem ser realizadas facilmente. Essas são
palavras muito equivocadas e, muito distantes do Caminho. Se você se dedica a
uma coisa, exclusivamente, considerando isso uma forma de treinamento, qualquer
coisa, até o ato de se deitar, pode ficar entediante. Se uma coisa fica
entediante, tudo o mais fica tedioso. Você deve saber que aqueles que gostam
das coisas fáceis, são, por isso mesmo, indignos da prática do Caminho.
Nosso
grande mestre Xaquiamuni, só conseguiu alcançar o ensinamento que prevalece no
mundo atual após se submeter a severo treinamento por incontáveis eons.
Considerando-se quão dedicado foi o fundador do Budismo, podem os seus
descendentes querer fazer menos do que ele? Aqueles que buscam o Caminho não
devem procurar por uma prática fácil. Procedendo assim, vocês jamais serão
capazes de alcançar o mundo verdadeiro da iluminação ou de encontrar a sala do
tesouro. Até mesmo o mais talentoso dos antigos ancestrais afirmou que o
Caminho é difícil de praticar. Você deveria se dar conta do quanto o Budismo é
imenso e profundo. Se o Caminho fosse, originalmente, tão fácil de praticar e entender,
esses primeiros e talentosos ancestrais não teria chamado a atenção,
exaustivamente, para suas dificuldades. As pessoas de hoje, quando comparadas
aos antigos ancestrais, não chegam nem a um único fio de cabelo em relação a um
rebanho de nove vacas! Isto quer dizer que, mesmo se essas pessoas modernas,
que não possuem nem habilidade nem sabedoria, se esforçassem ao extremo, a sua
prática, imaginada como difícil, ainda assim seria incomparável aquela dos
primeiros ancestrais.
Qual
é o ensinamento tão facilmente entendido e praticado que as pessoas de hoje,
ingenuamente, tanto apreciam? Não é nem um ensinamento secular nem Budista. É
inferior até mesmo às práticas de Pãpiyas (demônios), do Rei Demônio, as
práticas fora do Caminho e as dos dois veículos[2]. Pode-se dizer que é a grande
delusão dos homens e mulheres comuns. Embora eles imaginem ter escapado do
mundo delusório, ficaram, ao contrário, meramente sujeitos à transmigração sem
fim.
Quebrar
os ossos e esmagar a medula para alcançar o Budismo são consideradas práticas
difíceis. No entanto, é muito mais difícil, controlar a mente. Prolongadas austeridades
e prática pura são difíceis, mas controlar as ações físicas individuais é
o mais difícil de tudo.
Se
o esmagamento de ossos valesse alguma coisa, os muitos que enfrentaram esse
treinamento no passado deviam ter alcançado a iluminação; mas de fato
apenas alguns poucos conseguiram. Se as práticas de austeridade tivessem algum
valor, os muitos que assim procederam desde os tempos antigos teriam se tornado
iluminados, mas neste caso também, poucos o conseguiram. Tudo isso ocorre
devido a grande dificuldade de harmonizar corpo e mente. No Budismo, a mente
brilhante e a compreensão escolástica não são essenciais. Também não o são, a
mente discriminatória, a vontade, a consciência, pensamento e percepção
introspectiva. Para entrar no Caminho de Buda é preciso simplesmente harmonizar
corpo e mente.
O
velho Buda Xaquiamuni disse: “Kannon Bodhisatva gira o fluxo da percepção para
o interior profundo da mente, abandonando o conhecimento e o reconhecimento”
Aqui está o significado do que foi dito acima. As duas qualidades: de movimento
e de não movimento não apareceram de forma nenhuma; esta é a verdadeira
harmonia.
Se
fosse possível penetrar o Caminho baseado em possuir uma mente brilhante e
grande conhecimento, o culto Shên-Hsiu[3], teria sido, com certeza, capaz de
fazê-lo. Se a origem modesta fosse obstáculo para penetrar o Caminho, como
Hui-Neng[4], se tornou um dos ancestrais chineses?
Estes exemplos mostram, claramente, que o processo de transmissão do caminho
não depende nem de uma mente brilhante nem de amplos conhecimentos. Ao buscar o
Darma reflitam sobre si mesmos e treinem diligentemente.
Nem
juventude nem idade avançada constituem obstáculos para entrar no Caminho.
Chão-Chou[5] tinha mais de sessenta anos quando
começou a praticar e ainda assim se tornou proeminente ancestral. A filha de
Cheng[6], por outro lado, tinha apenas treze anos,
mas já tinha alcançado uma profunda compreensão do Caminho, tanto que se tornou
uma das mais preciosas aprendizes do seu mosteiro.
A
grandeza do Dharma de Buda se revela de acordo com o esforço e a prática
realizados.
Aqueles
que se dedicarem apenas ao estudo dos sutras, assim como aqueles versados em
estudos seculares, deveriam visitar um mosteiro Zen. Há muitos exemplos dos que
assim o fizeram. Hui-ssü[7] do monte Nan-Yueh era um homem de
muitos talentos e ainda assim se submeteu ao treinamento de Bodidarma.
Hsüam-chüeh[8] do monte Yung-chia era o mais fino
dos homens e, assim mesmo treinou com Ta-chien (Hui-nêng). O esclarecimento do
Darma e a realização do Caminho dependem da força adquirida com o treinamento
sob a orientação de mestres Zen.
Ao
visitar um mestre Zen em busca de instruções, ouça seus ensinamentos sem tentar
adequá-los ao seu ponto de vista, caso contrário você não poderá entender o que
ele está dizendo. Purifique seu corpo, mente, olhos e ouvidos e simplesmente
ouça seu ensinamento, refutando qualquer outro pensamento. Unifique corpo e
mente e receba o ensinamento do mestre como se a água estivesse sendo
transferida de um vaso para outro. Se puder alcançar tal estado de corpo e
mente, a verdade que o mestre ensina será a sua verdade.
Atualmente,
há algumas pessoas tolas que se dedicam a decorar palavras e frases dos sutras
e outras que se apegam àquilo que ouviram anteriormente. Agindo assim, tentam
comparar o que aparentemente sabem com os ensinamentos de um mestre. Não fazem
mais do que manter seus próprios pontos de vista e as palavras de pessoas
antigas, ignorando assim as palavras do mestre. Há ainda outros, que atribuindo
maior importância ao seu próprio pensar auto-centrado, abrem os sutras e
memorizam uma ou duas palavras imaginando que isso seja o Dharma de Buda. Mais
tarde, ao receber o ensinamento do Darma de um mestre Zen iluminado, eles o
consideram verdadeiro se coincidir com seus próprios pontos de vista, caso
contrário os consideram falsos. Não sabendo como abandonar o ponto de vista
equivocado, não podem retornar ao verdadeiro Caminho. São dignos de pena, pois
ficam sujeitos à eterna delusão. Que lamentável!
Os
praticantes devem entender que Buda está além do pensar, do analisar, do
discriminar, da imaginação, da percepção e da compreensão intelectual. Se não
fosse assim, como é que, mesmo tendo sido dotado dessas várias faculdades desde
o nascimento, você ainda não entendeu o Caminho?
Presunção,
discriminação, imaginação, intelecto, compreensão humana e assim por diante não
tem nada a ver com o Budismo quando estudando o Zen. Muitos assim como
crianças, brincam com estas coisas desde o nascimento, acordem para o Budismo
agora. Acima de tudo evite presunção e discriminação: reflita sobre isto.[9]
O
caminho de penetrar o portal é conhecido apenas pelos mestres que obtiveram
este Dharma. Não pode ser alcançado pelos que apenas estudam textos.
(Este
texto foi escrito num dia claro e brilhante do terceiro mês do segundo ano de
Tempuku[10])
[1] Cortar o braço se refere a Hui-Ko
(481-593), o segundo ancestral Zen na China, que cortou seu braço na presença
de Bodidarma no templo de Shao-Lin para mostrar o quanto era sincero seu desejo
de treinar com aquele mestre. Cortar o dedo refere-se a um dos discípulos de
Chu-chi que demonstrou o sentido do budismo para outras pessoas, apenas
imitando o hábito de seu mestre de levantar o dedo. Um dia Chu-chi descobriu o
que seu discípulo estava fazendo e cortou o dedo do discípulo para faze-lo
perceber a verdadeira natureza do budismo.
[2] Ensinamentos dos Sravakas e
Pratyebuddhas. Sravakas eram pessoas que esforçavam-se para se tornar Arhat,
isto é, aquele que alcançou a iluminação por si mesmo, mas não se preocupa em
salvar os outros. Pratyekabuddhas são pessoas que alcançaram a iluminação
através de estudos independente, sem a orientação de um mestre. Eles também não
se preocupavam em salvar os outros.
[3] Viveu entre 606-712. O fundador da
Escola Zen do Norte da China, foi líder dos discípulos de Hung-jen, (Konin em
japonês) o Quinto Pratriarca. Sua compreensão do Caminho era altamente
intelectual, o que o impedia de realizar a iluminação total.
[4] Viveu entre 637-712. Foi o
sucessor de Hung-jen (Konin em japonês). Realizaou a iluminação quando
triturava arroz enquanto treinava no Monte Huang-mei.
[5] Viveu entre 778-897, foi sucessor
de Nan-ch’uan, sendo famoso pelo koan “Chão-chou wu, relatado na página
10.
[6] Não se sabe mais nada a seu
respeito.
[7] Viveu entre 514 ou 515 até 577. É
considerado como o Segundo Ancestral da Escola Chinesa Tendai. Após ter
treinado com o mestre Hui-weng, em 570 foi para o Monte Nan-yueh, onde mais
tarde morreu. É famoso por ter escrito um número importante de livros sobre o
budismo.
[8] Viveu entre 665-713, é famoso por
ter escrito a “Canção da Iluminação” (Cheng-tao-ko).
[9] Superficialmente, a advertência
imediatamente precedente de evitar “pensamento, discriminação e assim por
diante, parece ser contraditada aqui. Entretanto, essas duas afirmações não
estão realmente em conflito: para “pensamento, e assim por diante” que é para
ser usada em última instância, está baseada como deve ser na prática real, não
é o pensamento conceitual, e assim por diante, do anterior. Este é um dos
pontos chaves da Soto Zen.
[10] Para alguns estudiosos 5 de abril
de 1234, para outros 15º dia do equinócio de primavera de 1234
Continuar
a leitura: Textos de Mestre Dogen (14)
Tradução: Grupo de Estudos do Templo
Busshinji, revisada pela Monja Coen,
baseada nas versões em inglês nos livros:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings, de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
Textos de Mestre Dogen (14)
outubro 19, 2009 — Monja Isshin
Gakudo Yojin-shu
Pontos a observar no Estudo do Caminho
Introdução por Monja Coen e Parte
1. A necessidade de despertar para a
Mente-Bodhi
Parte 2: A necessidade de treinar ao encontrar o Verdadeiro Darma
Parte 3: A necessidade de penetrar o Caminho
através da prática constante
Parte 4: A necessidade da prática não
egoísta do Caminho ou “Não pratique os ensinamentos de Buda com a idéia de
ganho”
Parte 5: A necessidade de procurar um
verdadeiro Mestre
Parte 6: O que você deve saber para a
prática do Zen
7.
A necessidade do treinamento Zen na prática do Darma de Buda
O
Darma de Buda é insuperável entre os vários caminhos. É por essa razão que
muitas pessoas o seguem. Durante a vida do Tathagata havia apenas um
ensinamento e um mestre. O Grande Mestre Xaquiamuni, sozinho, conduziu todos os
seres com sua Suprema Sabedoria. A partir da transmissão do Olho Tesouro da Lei
Verdadeira (Shobogenzo) ao Venerável Mahakasyapa (Makakasho), vinte e oito
gerações na Índia, seis gerações na China e sucessivos ancestrais das Cinco
Escolas do Zen[1] diretamente continuaram essa
transmissão ininterrupta. Desde a era P’u-t’ung (Jap. Ryokai, 520-526), no
estado chinês de Liang, todos que se destacaram como pessoas de valor, tanto
monges como nobres, sempre respeitaram e homenagearam o Darma de Buda.
A
verdadeira excelência (do verdadeiro Darma) só pode ser amada por aqueles
capazes de amar a excelência (do verdadeiro Darma).
Não
se deve amar os dragões como o fazia Yeh-kung (Jap. Sekko)[2]. Em algumas áreas ao leste da China, uma
rede estrutural de Budismo escolástico estendeu-se sobre os mares e as
montanhas. Entretanto, apesar de se espalhar sobre as montanhas, não contém o
coração das nuvens. Embora estendido sobre os mares seca o coração das
ondas. Os tolos se identificam com esse tipo de ensinamento. Ficam tão
fascinados como quem brincasse com um olho de peixe acreditando ter nas mãos
uma pérola, ou cuidasse de uma pedra comum do monte Yan como se fosse uma
jóia preciosa. Muitas pessoas se arruinaram, caindo na armadilha de demônios.
Que lamentável!
Em
localidades remotas, como essa, os ventos dos ensinamentos falsos sopram livremente
sendo difícil divulgar o Verdadeiro Darma.
Embora
a China já tenha obtido refúgio no Verdadeiro Ensinamento de Buda, por que,
então, ele não se difundiu em nossa terra ou na Coréia?
Na
Coréia, pelo menos o nome do Verdadeiro Darma pode ser ouvido. Em nosso país,
até isso é impossível. Por que? A razão é que muitos dos professores do passado
que viajavam á China aderiram à trama dos ensinamentos escolásticos que, embora
tenha transmitido muitos textos Budistas, esqueceu-se da essência do Darma de
Buda. Qual o mérito disto? No final resulta em nada. E tudo porque eles não
conhecem a essência do estudo do Caminho. Que lamentável! Desperdiçaram suas
vidas num árduo trabalho infrutífero.
Ao
entrar, pela primeira vez, o portal do Darma e iniciar o estudo do Caminho,
ouça, simplesmente, os ensinamentos de um mestre Zen e treine de acordo com as
instruções recebidas. Há algo que você perceberá no devido tempo. Está
ecrito no Sutra: o Darma gira o eu e o eu gira o Darma. Quando o eu gira o
Darma, o eu fica forte e o Darma, fraco. Quando o Darma gira o eu o Darma é
forte e o eu, fraco. Esses dois aspectos do Darma de Buda existem desde o
princípio. Mas eles só têm sido conhecido por aqueles que receberam a
transmissão autêntica. Sem um bom mestre é impossível, até mesmo, ouvir os
nomes desses dois aspectos.
Quem
desconhece esta entrada não pode nunca estudar o verdadeiro Darma. Como
poderiam diferenciar o certo do errado?
Aqueles
que praticam o verdadeiro Zen através do estudo do Caminho naturalmente
transmitem o significado desses opostos. É por isso que não há erros na
transmissão. Outras escolas não fazem assim. É impossível compreender o
verdadeiro Caminho sem praticar o Zen.
[1] As vinte e oito gerações na Índia
se iniciam com o chefe dos discípulos de Xaquiamuni Buda, Mahakasyapa
(Makakasho em japonês) e vai até Bodidarma.
As
seis gerações na China se referem cronologicamente a Bodidarma, Hui-ko,
Seng-tsan, Tao-hsin, Hung-jen e Hui-neng em japonês Bodaidaruma, Eka, Sosan,
Doshin, Konin e Eno).
Os
Ancestrais das Cinco Escolas Zen são Yun-men, Wei-yen, Tsào-tung, Lin-chi e
Fa-yen (Escola Unmon, Escola Igen, Escola Soto, Escola Rinzai, e Escola
Hogen).
[2] O legendário Yeh-kung gostava
muito de esculturas e pinturas de dragões, algumas que ele memo fazia. Certa
feita um dragão de verdade apareceu em sua sala e ele desmaiou de medo.
(a
continuar)
Tradução: Grupo de Estudos do Templo
Busshinji, revisada pela Monja Coen,
baseada nas versões em inglês nos livros:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings, de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
Textos de Mestre Dogen (15)
outubro 31, 2009 — Monja Isshin
Gakudo Yojin-shu
Pontos a observar no Estudo do Caminho
Introdução por Monja Coen e Parte
1. A necessidade de despertar para a
Mente-Bodhi
Parte 2: A necessidade de treinar ao encontrar o Verdadeiro Darma
Parte 3: A necessidade de penetrar o Caminho
através da prática constante
Parte 4: A necessidade da prática não
egoísta do Caminho ou “Não pratique os ensinamentos de Buda com a idéia de
ganho”
Parte 5: A necessidade de procurar um
verdadeiro Mestre
Parte 6: O que você deve saber para a
prática do Zen
Parte 7. A necessidade do treinamento Zen na
prática do Darma de Buda
8.
A conduta do monge Zen
Desde
o tempo do Buda, vinte e oito ancestrais da Índia, e os seis da China[1] transmitiram diretamente o verdadeiro
Darma, não acrescentando nada, nem mesmo um fio de cabelo, nem permitindo que
uma simples partícula de pó penetrasse o Darma. Com a transmissão da okesa para
Daikan Eno (Hui-neng), o Budismo se espalhou pelo mundo e o tesouro do
Verdadeiro Darma do Tathagata[2] atualmente floresce na China. É
impossível perceber o que é o Darma Verdadeiro através da imaginação ou de
pensamentos. Aqueles que penetram o Caminho abandonam as idéias sobre o mesmo e
não se importam mais com a fama, pois transcendem a mente comum.
Daikan
Eno (Hui-neng) perdeu sua face quanto treinava no Monte Obai (Huang-mei). Eka
(Hui-ko)[3] mostrou a seriedade de suas intenções
cortando fora o próprio braço em frente à caverna de Bodidarma, atingindo a
medula e transformando a mente deludida em mente iluminada. Mais tarde,
prostrou-se em frente a Bodidarma com profundo respeito.. Dessa forma ele
alcançou a liberdade absoluta, vivenciando o não-corpo-não-mente, desapegado,
ilimitado, em contínuo movimento.
Um
monge perguntou à Joshu (Chão-chou)[4], “O cachorro tem natureza Buda?”[5] Joshu respondeu: “Mu”[6]. Como que “Mu” pode ser medido se não há
nada para pegar, apenas para abandonar? Sugiro que tente ir em frente! Faça a
si mesmo essas perguntas: O que são corpo e mente? O que vem a ser conduta Zen?
O que são nascimento e morte? O que é Budismo? Quais são as ocupações do mundo?
E, o que são, essencialmente, montanhas, rios, terra, seres humanos, animais e
casas?
Se
continuarem estas perguntas, o movimento e a quietude, não aparecerão
claramente. Entretanto, isto não significa inflexibilidade. Infelizmente,
poucas pessoas o percebem e a maioria sofre delusões. Praticantes Zen, podem
percebê-lo tendo treinado por algum tempo. Portanto, é minha sincera esperança
que vocês não parem de treinar mesmo após terem se tornado completamente
iluminados.
[1] As vinte e oito gerações na Índia
começam com o chefe dos discípulos da Buda. Mahakasyapa (Makakasho em japonês)
e vão até Bodidarma. As seis gerações na China são, em ordem cronológica,
Bodidarma, Taiso Eka (Hui-ko), Kanchi Sôsan, Daii Dôshin, Daiman Kônin e Daikan
Enô Seng-ts’na, Tão-hsin, Hung-jen e Hui-neng (em japonês: Bodaidaruma, Taiso
Eka, Sosan, Doshin, Konin e Eno).
[2] Tathagata – um dos epítetos de
Buda, literalmente “aquele que vem e vai do assim como é.”
[3] Eka – 487 a 593 – Segundo Ancestral
da China. Sucessor de Bodhidharma, o qual encontrou aos 40 anos de
idade. Seis anos mais tarde recebeu a transmissão do Darma.
[4] Joshu Jushin – 778 a 897 –
Discípulo de Nansen, tornou-se monge quando ainda era criança e é considerado
um dos grandes mestres Zen, Um de seus casos mais famosos é o koan “Mu”.
[5] Natureza Buda – O potencial para
realizar iluminação, inato em todas as coisas. Literalmente, natureza
iluminada.
[6] Mu – Literalmente uma negativa, em
japonês. Corresponde ao “Wu” chinês.
(a continuar)
Tradução: Grupo de Estudos do Templo
Busshinji, revisada pela Monja Coen,
baseada nas versões em inglês nos livros:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings, de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
Textos de Mestre Dogen (16)
março 22, 2010 — Monja Isshin
Gakudo Yojin-shu
Pontos a observar no Estudo do Caminho
Introdução por Monja Coen e Parte
1. A necessidade de despertar para a
Mente-Bodhi
Parte 2: A necessidade de treinar ao encontrar o Verdadeiro Darma
Parte 3: A necessidade de penetrar o Caminho
através da prática constante
Parte 4: A necessidade da prática não
egoísta do Caminho ou “Não pratique os ensinamentos de Buda com a idéia de
ganho”
Parte 5: A necessidade de procurar um
verdadeiro Mestre
Parte 6: O que você deve saber para a
prática do Zen
Parte 7. A necessidade do treinamento Zen na
prática do Darma de Buda
Parte 8: A conduta do monge Zen
9.
A necessidade de praticar de acordo com o Caminho
Os
praticantes Budistas deveriam primeiramente, determinar se sua prática está ou
não direcionada para o Caminho. Xaquiamuni, que foi capaz de harmonizar e
controlar seu corpo, fala e mente, sentou em zazen sob a arvora bodhi.
Subitamente, ao ver a estrela da manhã, se tornou iluminado, realizando o
Caminho Supremo, que está muito além daquele dos Sravakas e Pratyekabuddhas. A
iluminação que Buda alcançou, através de seu próprio esforço, tem sido transmitida
de Buda para Buda sem interrupção até os dias de hoje. Como então, aqueles que
alcançaram a iluminação não se tornaram Budas? Andar em direção ao Caminho
significa conhecer seu aspecto e sua grande extensão. O Caminho se encontra sob
o pé de cada pessoa. Quando você se torna o Caminho você descobre que ele está
exatamente onde você está, realizando assim a perfeita iluminação. Entretanto,
caso sinta orgulho de sua iluminação, mesmo que ela seja muito profunda, ela
não será nada mais que uma iluminação parcial. Estes são os elementos
essenciais de estar direcionado para o Caminho.
Atualmente
os praticantes desejam fortemente ver milagres, mesmo que não compreendam como
o Caminho funciona. Quem entre eles não está cometendo erros? São como crianças
que abandonando tanto o pai como a fortuna do pai e da mãe, fogem de casa.
Apesar de terem um pai rico e serem filhos únicos, podendo algum dia herdar
tudo, tornam-se mendigos, buscando fortuna em lugares distantes. Este é
verdadeiramente o caso.
Estudar
o Caminho é se tornar um com o Caminho, esquecer até mesmo qualquer traço de
iluminação. Aquele que praticar o Caminho deve, em primeiro lugar, acreditar
nele. Aqueles que crêem no Caminho devem acreditar que eles têm estado no
Caminho desde o princípio, não sujeitos a nenhuma delusão, pensamentos
ilusórios, idéias confusas, nem a aumento, decréscimo ou compreensão enganosas.
Engendrando crenças como esta, esclareça o Caminho e conseqüentemente o
pratique, está é a essência de estudar o Caminho.
O
segundo método do treinamento Budista é eliminar a função da consciência
discriminativa e afastar-se do caminho da compreensão intelectual. Este é o
modo como os noviços devem ser guiados. A partir de então, eles serão capazes
de abandonar corpo e mente, libertando-se das idéias dualísticas de delusão e
iluminação.
Em
geral existem apenas uns poucos que acreditam estar no Caminho. Se você apenas
acreditar que está verdadeiramente no Caminho, será naturalmente capaz de
compreender como ele funciona, como também o verdadeiro significado de delusão
e iluminação. Faça uma tentativa de eliminar a função da consciência
discriminativa; e então, subitamente, você terá quase realizado o Caminho.
(a
continuar)
Tradução: Grupo de Estudos do Templo
Busshinji, revisada pela Monja Coen,
baseada nas versões em inglês nos livros:
Zen is Eternal Life, de Rôshi Jiyu Kennett,
Moon in a Dewdrop, editado por Kazuaki Tanahashi
Zen Master Dogen, An introduction with selected writings, de Prof. Yuho Yokoi e
Daisen Victoria
Fonte: https://aguasdacompaixao.wordpress.com/sutras/textos-do-mestre-dogen/
Comentários
Postar um comentário